Ansiedade pelo bem, agentes do mal - Parte 1

Alguns irmãos sugeriram que esse artigo fosse dividido em partes para melhor aproveitamento da leitura e meditações. Portanto, estamos trazendo a primeira parte com algumas revisões.

Lembro-me de ter ministrado sobre este tema na época de 2005, em meio a muitos acontecimentos impactantes em nossa família e ministério. Ultimamente temos vivido um novo momento intenso com a igreja, discípulos e amigos de jornada, momentos de muita pressão e resistência mediante a necessidade de posicionamentos radicais, no sentido de ações bem fundamentadas e não simplesmente pseudo revolucionárias.

De forma geral percebemos o desejo ardente pelas evidencias dessa realidade chamada Reino de Deus. Uma realidade que nem sempre é associada a tensão causada por uma guerra de influência espiritual dentro de cada um de nós que possibilitará uma ocupação que estabelece novos limites de atuação. Essa tensão causada pela cultura e valores do Reino gera uma série de crises, que nada mais significam do que perda súbita de controle. Essa sentimento de descontrole pessoal e interior, denuncia um novo sentimento de ansiedade, insegurança e vulnerabilidade. Em dias abstratos que se busca por uma ideia de estabilidade e segurança, esse sentimento pode ser amedrontador.

De repente o “anseio” por uma realidade espiritual, interior e eterna parece entrar em choque com a “ansiedade” pelas necessidades da vida natural comuns a todos, a expectativa parece misturar-se com um receio, o que parecia certo de repente não é tão certo e concreto como pensávamos, uma apreensão surge como uma pitada de fermento nas convicções, uma desesperança parece desgastar nossa fé como a ferrugem causando desequilíbrio espiritual, emocional e físico. Meu desejo é que todos continuemos queimando pelo Reino e que isso não seja apagado por nenhuma expectativa fantasiosa e a busca incansável e ativista por resultados visíveis e imediatos.

Quero voltar a abordar esse tema porque creio que se não tratarmos isso à maneira de Deus, poderemos nos frustrar mais uma vez, e como na maioria das vezes, equivocadamente, podemos responsabilizar a todos, menos a nós mesmos por todas as nossas expectativas, sonhos e abstrações não correspondidas. Estamos diante do desafio de sempre conviver com algum nível de ansiedade, a forma como administramos esse sentimento é que determina se a ansiedade se torna nociva ao ponto de comprometer nossa capacidade de crer, ver e agir. A Ansiedade administrada espiritualmente pode nos tornar pessoas proativas que antecipam situações e nunca se acomodam, estão sempre a frente das pessoas do seu tempo.

Talvez você nunca tenha pensado que sua ansiedade pelo bem poderia te tornar um agente do mal, mas quando Pedro fala por meio de revelação é chamado de bem aventurado, aquele que avança e progride (Mateus 16:17) e quando fala a partir das cogitações do seu coração é chamado de pedra de tropeço, ao ponto de Satanás ser repreendido por causa das suas palavras. A ansiedade de Pedro pelo bem de Jesus, o tornou um agente colaborador do mal. Quando deixamos de ouvir e ver por meio de um desvendamento do Espírito, a partir da perspectiva de Deus, corremos o risco de agir a partir da própria visão e pensamento, tornando-nos pedras de tropeço para o avanço do Reino que ansiamos ver se manifestar. É algo mais sério e comprometedor do que imaginamos. Podemos estar no lugar certo, mas vendo por uma perspectiva errada e agindo de forma precipitada. Estamos vivendo dias de sincronização com os pensamentos e caminhos de Deus.

PRINCÍPIO DE CAUSA E EFEITO.

A ansiedade pode promover um nível extremo de decepção e nos surpreender com o resultado final das nossas precipitações. Podemos achar que estamos indo para um lugar e chegar em outro. É comum não percebemos como nos perder tanto enquanto achávamos estar no caminho. Precisamos permitir que o Senhor acenda a luz dentro de nós. 2 Samuel 22:29 diz: "Tu, Senhor, és a minha lâmpada; o Senhor derrama luz nas minhas trevas".

Conversando com irmãos sobre ansiedade, percebemos diversas maneiras desse sentimento se manifestar: Falar compulsivamente, cuidado sufocante com pessoas ou coisas, excesso de zelo por tarefas, ativismo legalista exterior religioso, ativismo profissional ou doméstico, controle e preocupação exagerada com a administração, insegurança pela perda de controle mediante situação de crise e conflito, necessidade de aprovação e aceitação mediante obras e relacionamentos utilitários, assim por diante. Para cada um de nós a ansiedade pode se manifestar de maneira diferente, podendo se manifestar desencadeando enfermidades psicossomáticas. Acredito que a grande questão não é se somos ou não ansiosos, mas como administramos em Deus essas crises de ansiedade em dias de tanta pressão espiritual, emocional, pessoal, ministerial, etc.

Provérbios 12:25 diz: “A ansiedade no coração do homem o abate”, tem o poder de nos render, resultando em depressão, rupturas relacionais, apertos no peito, perda de sono, solidão, adoecendo alma, afetando a mente, emoções, comportamento até adoecerem o físico. A ansiedade tem poder destrutivo e não podemos aceitar que esses sentimentos nos privem de viver o “Reino de Deus que não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Romanos 14.17), uma realidade de vida plena interior e eterna. A ansiedade pode se tornar um mal que tem abatido a fé, a esperança e a força de muitos a nossa volta, por isso, quero encorajar você a parar para refletir sobre o assunto com coragem.

Os sintomas de ansiedade que falamos até agora apontam para efeitos e temos tido muita dificuldade de superá-los justamente por não entendermos suas causas. Mas afinal, qual seria a causa da ansiedade? Se olharmos para o próprio dicionário de língua portuguesa encontraremos a seguinte definição: “Estado afetivo em que há sentimento de insegurança”. Creio que de maneira muito simples essa definição nos ajuda a entender a ansiedade como uma perturbação causada por nossas incertezas.

Toda vez que não nos sentimos seguros em algum aspecto da vida, essa ansiedade leva-nos a buscar por algo que proporcione segurança e realização. Ansiedade envolve expectativas e precipitações. Quando não nos sentimos seguros com relação a quem somos ou o que temos, usamos uma série de mecanismos para nos sentirmos mais seguros e aceitos. Esse ciclo neurótico de insatisfação constante nos abate, absorve nossa energia, a mente confusa, cheia de fantasias, perde sua clareza e o coração obstinado por tantos desejos perde seus valores, tornando-se cada vez mais frio, insensível, fútil e cruel.

Um exemplo interessante é dilema dos irmãos de José em Gênesis 42:21: “Disseram uns aos outros: Na verdade, somos culpados, no tocante a nosso irmão, pois lhe vimos a angústia da alma, quando nos rogava, e não lhe acudimos; por isso, nos vem esta ansiedade”. A palavra aqui aparece como aflição ou importunador, mostrando a ansiedade como consequência de sentimento de culpa, insegurança quanto a decisão que haviam tomado, resultando em perturbação. Toda situação mal resolvida que envolve algum tipo de incerteza, trará ansiedade e mecanismos de compensação que com o tempo pode nos abater.

DOIS PENSAMENTOS E NENHUMA DIREÇAO.

Tiago 1.6 diz: “Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, de modo generoso e sem condenação. Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento. Não suponha esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa; homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos”.

Partindo para terminologia bíblica, “ansiedade” significa separar ou dividir em partes, completando nosso entendimento de ansiedade como mente e coração divididos, condição de incerteza que traz insegurança e inconstância, tornando-nos pessoas agitadas de um lado para o outro. Em meio a esse contexto de agitação, Tiago traça um paralelo entre fé e incredulidade, provando como a falta de tranquilidade para ouvi-lo, promove ansiedade pelo fazer precipitado, resultando em frustração por não ter alcançado nada, nem ter chegado a lugar algum. Alguém de mente dividida é inconstante, toma decisões passionais, procede sem serenidade, tornando-se imprudente comprometendo seus caminhos.

Tiago parte da necessidade de “Sabedoria”, capacidade de interpretar o sentido das coisas e agir inteligentemente, a habilidade de administrar os acontecimentos diários com prudência, praticidade e espiritualidade, chamamos isso de “Inteligência Espiritual”. Será que não reconhecermos a sabedoria de Deus na execução dos seus planos na formação e governo do mundo? Porque quando pedimos sabedoria não temos tranquilidade para esperar nele e ouvi-lo? Porque ainda ficamos divididos, hesitando entre pensamentos? Até quando seremos agitados de um lado para o outro sem rumo e direção? Até quando seremos como meninos de “ânimo dobre”, vacilantes, incertos, de interesse dividido e as vezes duvidoso? Precisamos avançar da agitação da mente, da busca pela verdade, para uma imersão na vida, onde toda verdade faz sentido.

A PROFUNDIDADE DA SIMPLICIDADE.

Jesus conhecendo nossa natureza agitada por emoções e pensamentos, centralizada na própria vontade, concede a seus discípulos uma “chave” de entendimento e sincronização, um lugar onde “percebemos, vivemos, ouvimos Deus”, um ambiente onde nosso homem interior é ministrado, momento onde nossa visão é ampliada, lugar de onde nossa mente e coração são guardados, onde não nos sentimos sozinhos e vemos que os problemas que nos perturbam não são tão assustadores como parecem. A simplicidade dessa proposta de Jesus mostra o quanto nossa ansiedade obscurece a visão para as respostas que que podem ser encontradas a partir Dele, dentro de nós.

Mateus 6.6 diz “Mas você quando orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu PAI, que está em secreto. Então seu Pai, que vê o que você faz quando está sozinho, o recompensará”. A mentalidade religiosa exibicionista busca por reconhecimento e aprovação por praticas exteriores, os incrédulos por causa da ignorância vivem presumindo, pensam que pelo muito fazer, falar, repetições e penitencias serão ouvidos. Mediante tanta agitação e praticas complexas e superficiais, somos desafiados a entender a profundidade que existe na simplicidade. Jesus estava falando de um lugar espiritual, de um lugar em que o coração é desvendado, curado e guardado. Está falando de estar no Pai, isso mantinha sua mente focada naquilo que realmente precisava ser feito, essa é a base da sua prática e ensino sobre oração.

Segundo a palavra grega que aparece oitenta e duas vezes no Novo Testamento, gosto de pensar na oração como falar a alguém que está perto, também voltar-se integralmente para Deus, estar com nossos corações e mentes voltados para Ele. Conceito que é ampliado pela tradução da palavra hebraica usada em Isaias 12.1 podendo ser traduzida como “falar ao coração”. A oração aparece nesse contexto como um momento único e íntimo, que nos conecta ao Pai. Uma realidade que muitas vezes deixamos de perceber por causa da agitação causada por nossa ansiedade. Justamente por causa dessa agitação exterior e a multidão de ruídos que perturbam nossa mente, Jesus fala de um ambiente silencioso, secreto e intimo. Lugar secreto é o lugar dos segredos do coração. Em meio a agitação desses dias, procure por este lugar de descanso no homem interior, lugar de ser de verdade, de falar a verdade, render os anseios mais íntimos. Por isso Jesus completa: “Fecha a porta e ore ao seu Pai”. Um lugar de portas fechadas, lugar em que nada pode nos impedir de perceber claramente e ser ministrado interiormente.

Salmos 46:10 diz: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra”. Existe uma relação importante entre o Aquietar e o Saber. Esse “aquietar” além de estar relacionado ao silêncio, tem uma ênfase no termo “afundar”, ir ao fundo, submergir, cavar profundamente através da oração e meditação. Portanto, quando Jesus fala de fechar a porta, está propondo uma profunda imersão em toda a realidade do Pai, ambiente em que nossos olhos são desvendados para uma nova perspectiva sobre tudo.

Lembre-se disso: “Somente quem se aquieta sabe, sofre de ansiedade quem não conhece. Quem se deixa ser imerso em Deus aprende a conhecê-lo, descobre uma nova perspectiva, alcança capacidade de perceber Deus, discerne as situações espiritualmente, desenvolve um coração sábio e pacífico. Com base nesse princípio entendemos porque Jesus diz que apenas aqueles que não o conhecem como Pai se preocupam e ficam ansiosos pelas coisas da vida (Mateus 6.24-34). Aconselho você a procurar por esse ambiente que não é apenas um lugar físico mas uma realidade espiritual, interior e eterna.

Nesse ambiente somos divinamente recompensados. Esse “quarto” significa uma câmara de armazenamento ou deposito de riquezas. Um lugar secreto e escondido de riquezas espirituais onde perdemos a noção do tempo cronos e imergimos no kairos. Nesse ambiente o fruto do Espírito é plantado em nós, e quando desenvolvido, evidencia suas virtudes em nosso homem interior, amor, alegria, paz, bondade, paciência e assim por diante. Essas riquezas nos esperam nesse lugar espiritual chamado “Quarto”. Na constante crise do Ideal com o real, vivemos a frustração de desejarmos as evidencias do espirito mas estamos sempre diante das evidencias da nossa carnalidade. A questão é que quando se trata de “Fruto do Espírito” está se falando de uma semente, de um processo contínuo, está falando de uma jornada, de uma busca, para buscarmos essa realidade, precisamos desejá-la, nossos valores precisam mudar, mas para que tenhamos novos valores, aquilo que valorizamos hoje precisa perder seu valor. Estou falando de riquezas espirituais, de virtudes que darão a você uma nova capacidade de resolução. Não estou dizendo que seus problemas vão se acabar, mas você saberá como resolver e administrar as crises, talvez algumas circunstancias continuem as mesmas, mas voc6e nunca mais será o mesmo. Esse será o grande diferencial.

Se você entende que conhecer o “teu Pai” é mais importante do que tudo que parece urgente sufocando sua mente, desperdiçando seu tempo, renda-se, deixe que o Espírito de Deus te conduza e desvende seus olhos para essa realidade. Paulo diz em 1 Coríntios 2.9: “Nenhum olho viu, nenhum ouvido ouviu e o coração de ninguém imaginou todas as coisas que Deus preparou para aqueles que o amam. Entretanto, Deus nos revelou estas coisas. Por meio do Espírito. Porque o Espírito sonda todas as coisas, mesmo as profundezas de Deus. Pois quem conhece a forma de atuação interna de uma pessoa, a não ser o espírito da pessoa que está nela? Da mesma forma, ninguém conhece os pensamentos de Deus, a não ser o Espírito de Deus. Nós, porém não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito de Deus, para podermos entender as coisas que Deus nos deu de forma generosa”. Não se trata de algo que alcançamos por nós mesmos, mas de uma realidade que nos moverá acima das circunstancias. Se lembre que Jesus não abriu o mar, mas mostrou ter autoridade para andar sobre as águas. Talvez você não mude circunstancias da sua vida, mas poderá andar por cima delas, elas não te afetarão como antes. Isso é muito poderoso.

Devemos entender que Reino Presente tem a ver com suportar a pressão desta era para viver a antecipação do Reino Vindouro, uma realidade de decisão e definição. Sabemos que um lugar de decisão é naturalmente um lugar de pressão, emocional, física e espiritual. No Contexto de Mateus 26.36, num lugar chamado Getsêmani, que significa “lagar de azeite”, Jesus orava e seus discípulos deixaram-se desmaiar. Durante três vezes seus discípulos são exortados a vigiar e orar, mas em uma delas Pedro é exortado especificamente para que não caísse em tentação. Jesus orava para que fosse feita a vontade do Pai e não a sua, mesmo diante de tanta aflição. Segundo o relato de Lucas, Ele chora lágrimas de sangue pelo cumprimento dessa vontade, Ele orava para saber o que fazer no momento exato, a fim de cumprir o propósito. O interessante nisso é que logo em seguida Jesus é preso, e enquanto se entrega como um cordeiro, alguém se levanta com uma espada e corta a orelha de um dos soldados. Muitos acreditam que esse homem seja Pedro, o que vemos é alguém que no momento de decisão se mostra inseguro e desconectado, sem saber o que fazer, agindo de forma precipitada, impedido de cooperar com o propósito. Nossa oração é para que estejamos atentos neste tempo de tanta pressão para que nos momentos pontuais dessa jornada, saibamos o que fazer, como fazer. Que tudo coopere para aquilo que está sendo edificado em nós e a partir de nós.

Fraternalmente em Cristo,

Anderson Bomfim
andersonbomfim@hotmail.com



( Texto extraído da página de Anderson Bomfim no Facebook: https://www.facebook.com/notes/anderson-bomfim/parte-i-ansiedade-pelo-bem-agentes-do-mal/290027757766749 )


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