Vivendo a Restauração - Parte 2






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VIVENDO A RESTAURAÇÃO - Parte2
(Por Anderson Bomfim)



INTRODUÇÃO
Vamos procurar dar continuidade ao tema “Vivendo a Restauração”, seguindo a proposta de avançarmos ao tempo de darmos frutos de restauração. Com base nas escrituras de Ageu (VI a.C), profeta hebreu que desempenhou papel importante na vida de Jesuralém após o retorno dos cinqüenta mil judeus exilados do cativeiro da Babilônia , compartilharemos alguns valores importantes que podem identificar uma realidade de restauração da Igreja no sentido da “Origem que constitui a natureza da existência de algo, sua substância, sua significação especial e seu espírito, ao invés de apenas sua forma de funcionamento”.






“No verão de 520 c.C, Ageu, o primeiro a profetizar entres seus contemporâneos Zacarias e Malaquias, conseguiu mobilizar pessoas para retomar a trabalho de restauração do templo em ruínas. (Ora, os profetas Ageu e Zacarias, filho de Ido, profetizaram aos judeus que estavam em Judá e em Jerusalém, em nome do Deus de Israel, cujo Espírito estava com eles. Esdras 5.1)” [1] e para eles, os problemas enfrentados pela comunidade (colheitas serem magras e seus campos assolados pela seca) estavam ligados ao fato da “casa do Senhor” ainda continuar em ruínas. Porém, o mais interessante é que o pequeno livro de Ageu vai além do objetivo imediato da reconstrução do tempo, mostrando conexão com o passado, confirmando o propósito de Deus em se relacionar com seu povo (Êxodo 25.8 Ageu 2.5), apontando para o futuro, falando a respeito de um “Novo Templo” que brilharia com uma glória maior que a do templo de Salomão. Outro aspecto desse artigo é perceber que todo o contexto vai além da expectativa de Deus por um lugar físico, mostrando a expectativa de que seus corações se voltassem a ele, mostrando a Edificação do Templo (No sentido de reconstruir e fazer continuar), não apenas no seu sentido literal e Material, mas sim dentro de uma perspectiva espiritual e profética da igreja como uma realidade relacional e de conexão dos céus com a terra.





INFLUÊNCIA PROFÉTICA

O primeiro aspecto que identifica uma realidade de restauração, arrependimento e volta à originalidade e essência é a manifestação profética, “Deus está formando o ministério profético necessário para esses dias. Analisando o ministério de cada profeta nas escrituras, podemos perceber que a sua mensagem estava contida na necessidade do povo e naquilo que o povo não estava cumprindo como nação sacerdotal. Desvios, desobediência e injustiças conduziam o povo ao cativeiro espiritual e físico. Nesse tempo, o profeta era levantado para proclamar a obediência do seu povo à aliança e redirecionar segundo o propósito estabelecido por Deus” [2].





Seguindo esse pensamento, fazendo uma aplicação prática, atribuímos o fato de estarmos experimentando uma realidade de restauração (Segundo os valores do Primeiro artigo), termos sido tocados por uma expressão profética, uma atuação específica de redirecionamento e ativação que nos trouxe de volta ao propósito de trabalhar em prol da igreja gloriosa (Efésios 5) visando à expressão da manifestação de filhos amadurecidos (Romanos 8). A partir de 2005, vivemos um período de transição e fomos ministrados pelo ministério profético como nunca antes, direcionando-nos a viver um processo de reconstrução, discernindo tempos e épocas para avançar cumprindo propósitos. Assim como Ageu inicia falando da necessidade de discernir tempos e épocas priorizando propósitos e projetos, muitos momentos importantes de restauração e reavivamentos em lugares de decisão e de divisão de épocas, a manifestação profética se fez presente.

Olhando hoje para o momento que estamos vivendo, temos visto um amadurecimento de uma atuação profética, consciente da necessidade de discernir tempos, por exemplo, Martin Scott tem falado sobre vivendo tempos de Transição diz: “Precisamos estar prontos para ajustar o que temos feito à luz do novo tempo. O que for que tenha servido no seu tempo, tem que dar lugar para a próxima manifestação relevante. Deus faz tudo belo no Seu tempo (Eclesiastes 3:11); Deus declarará as coisas terminadas bem antes que sejam removidas. Nós, contudo, não devemos focalizar em tentar nos livrarmos do que tem sido terminado. Nosso foco precisa estar no desenvolvimento do que está se levantando;As coisas antigas permanecem porque o peso de responsabilidade está em preparar o que está se levantando. Embora o antigo esteja terminado, ele, ainda atua nos propósitos de Deus (de modo estranho à nossa perspectiva) como uma proteção temporária para o que está se levantando”[3].

Fábio Souza tem representado uma voz profética atuante em tudo o que hoje temos nos envolvido, falando muitas vezes sobre remir o tempo, tempo de rompimento, leitura dos tempos, sinais dos tempos, ou seja, a importância de cada ciclo e de como devemos nos posicionar diante de cada período específico, sempre visando alinhamento com aquilo que Deus está fazendo e o avanço do Reino de Deus onde estamos atuando. Portanto, uma característica que temos testemunhado em uma realidade de restauração seria uma genuína e saudável influência profética.

Estamos enfatizando esse princípio porque vemos em Ageu uma sincronia muito precisa com o relógio de Deus, ou seja, desde a destruição final de Jerusalém (586 a.C) os setenta anos profetizados de cativeiro ainda não estavam totalmente completos (Jeremias 25.11-12), dando a entender que o momento em que Ageu se levanta como uma voz profética representava o tempo exato de Deus para aquela mobilização.





DISCERNINDO O TEMPO, PRIORIZANDO PROJETOS

Eclesiastes 3.1e 11 diz “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu. Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim”. Eclesiastes 8.5 diz “Quem guarda o mandamento não experimenta nenhum mal; e o coração do sábio conhece o tempo e o modo. Porque para todo propósito há tempo e modo; porquanto é grande o mal que pesa sobre o homem”. Conforme lemos nesses textos, vivemos o dilema do tempo, Deus colocou a eternidade em nosso espírito, porém vivemos o desafio de descobrir sua vontade através da obediência aos seus mandamentos, alcançando um coração sábio, no sentido de experimentado,para discernir tempo(quanto) e modo(como) cumprir seus propósitos.





Sabemos que a volta de Israel a sua terra se deu com um objetivo de reconstruir o templo, por isso, a obra iniciou logo que os deportados para a Babilônia começaram a chegar a Jerusalém. Porém, diante das dificuldades econômicas e a hostilidade da oposição daqueles que habitavam na terra, eles mantiveram todos os trabalhos interrompidos durante 15 a 16 anos (Esdras 4.1-24), porém, enquanto viviam letargia para com o mandato de Deus, cada um passou a investir tempo e recursos em seus próprios projetos acostumando-se com a idéia do Templo estar em ruínas. Isso prova que nada pode ser capaz de nos impedir quando estamos dispostos, na verdade o que faltava era uma profunda convicção e disposição em se envolver. Diante desse realidade a questão é: Quem de fato se importa? O que estamos construindo? Pra quem será?

Conforme vemos no texto havia um contraste gritante entre a realidade pessoal do povo e a sua realidade espiritual e coletiva, enquanto estavam morando em suas casas “estucadas ou apaineladas” a casa do Senhor estava em ruínas, ou seja, enquanto todos estavam vivendo em função de ter uma casa confortável e belamente adornadas com madeiras de cedro, que era rara em Judá, representando um sinal de luxo e alto investimento, os alicerces do templo estavam expostos ao abandono, como um memorial do fracasso da ultima tentativa de restauração. Qualquer semelhança com a condição que se encontra a Igreja não é uma coincidência. Quem nunca teve a percepção espiritual de uma noiva maltrapilha, ou seja, de uma igreja carente e necessitada de restauração? Quem nunca teve uma percepção espiritual de um corpo dividido? Quem nunca teve a percepção espiritual de uma casa em ruínas? Quem nunca parou para pensar no que Paulo diz sobre o verdadeiro sentido da ceia e a responsabilidade que temos em discernir as necessidades do corpo? A questão é quem se importa?

Essa letargia generalizada dos dias de Ageu, pode ter originado uma série de argumentos, como o fato de estarem trabalhando cada um para seu sustento nos dias da colheita, porém, as colheitas eram magras e os tempos estavam difíceis para se envolver com outros projetos, ou seja, assim como hoje não faltavam justificativas para a melancolia religiosa e falta de envolvimento com o verdadeiro propósito de estarem ali, na verdade nunca chegará o tempo apropriado para aqueles que estão desinteressados, ao mesmo tempo que nada é forte o bastante para abater aqueles que tem convicção de estarem se movendo dentro do propósito, do tempo no modo de Deus.

Nesse contexto de crise, Ageu é levantado pontualmente, para atuar durante quatro meses entregando quatro mensagens, e em sua primeira mensagem mostrar que perspectiva de Deus era contrária a perspectiva de todos, ou seja, enquanto eles negligentemente contentavam-se em dizer “não é o tempo para o templo mas é tempo para nossas casas”, o profeta usa uma expressão que se repete cinco vezes no livro: “Considerai o vosso passado”, no sentido de “reflita, entenda e ordene seu homem interior levando em consideração tudo o que vocês já passaram por terem sido indiferentes a vontade de Deus”, ou ainda, perguntem a vocês mesmos? Será que não há um motivo para tudo isso? Dessa forma, o ministério profético traz uma nova compreensão do propósito, do tempo e do modo. Alguns comentários dizem que vinte e um dias após essa mensagem a obra foi iniciada (Ageu 1.12-15).

Assim fala o senhor dos Exércitos: Este povo diz: Não veio ainda o tempo, o tempo em que a Casa do Senhor deve ser edificada. Veio, pois, a palavra do Senhor, por intermédio do profeta Ageu,[4] dizendo: Acaso, é tempo de habitardes vós em casas apaineladas (Revestidas com Cedro), enquanto esta casa permanece em ruínas(Arruinada e Abandonada)? Ora, pois, assim diz o Senhor dos Exércitos: Considerai Entender e ordenar no homem interior) o vosso passado. Ageu 1.1

Observando esse contexto, vemos uma verdade que não temos como negar, todas as vezes que buscamos nos envolver com a restauração da igreja (“Renovar seu estado original, restituindo sua verdadeira essência, os valores da doutrina e mensagem de Cristo”), enfrentamos algum tipo de resistência e oposição, geralmente da parte daquilo que já está estruturado na realidade local. Agora a questão é que na maioria das vezes essa colisão causada pelos conflitos internos de interesses nos leva a deixarmos nosso envolvimento com a edificação dos santos e a expressão da Igreja em segundo plano. Em algumas instituições isso é tão normal que ainda se prega a existência de uma vida religiosa e uma vida secular como se as duas realidades fossem independentes, acomodando as coisas como se Cristo tivesse nos comprado com seu sangue para Deus, apenas por algumas horas do nosso final de semana.

Atenção! Deus está anunciando um novo ciclo de tempo, durante quinze anos viveram um período de transição investindo em seus projetos pessoais, e os resultados não foram nada satisfatórios: “Tendes semeado muito e recolhido pouco; comeis, mas não chega para fartar-vos; bebeis, mas não dá para saciar-vos; vestis-vos, mas ninguém se aquece; e o que recebe salário, recebe-o para pô-lo num saquitel furado”. Naquele momento, Deus estava decretando falência e removendo todo seu favor sobre tudo o que estavam fazendo, porque o tempo de estarem investindo em suas próprias coisas havia chegado ao seu limite, escassez de mantimento (cereal), falta de alegria e satisfação (vinho) e um vazio enorme pela falta da sua presença (Óleo), seriam sinais que denunciariam a indiferença para com o projeto original de restauração(Ageu 1.9-11).

Estamos para viver dias parecidos, dias em que será retido o orvalho e não haverão frutos, ceral, vilho e óleo, dias em que Ele não será mais atraído por aquilo que fizemos em nome Dele, e não responderá por aquilo que queremos Dele, mas seremos atraídos a ele e a sua vontade como nunca antes, a fim de que sua igreja seja restaurada (Efésios 5.27) e sejam revertidas todas as consequências da nossa esterilidade natural, então veremos o favor do Senhor sobre tudo que colocarmos nossas mãos (Os anciãos dos judeus iam edificando e prosperando em virtude do que profetizaram os profetas Ageu e Zacarias, filho de Ido. Edificaram a casa e a terminaram segundo o mandado do Deus de Israel e segundo o decreto de Ciro, de Dario e de Artaxerxes, rei da Pérsia. Esdras 6:14).

Porém, devemos entender outro valor importante! Restauração se dá com engajamento, por isso, Ageu desafia o povo a voltar a se envolver com o projeto de reconstruir o templo e edificá-lo das suas ruínas. Estamos sendo desafiados a nos envolver com aquilo que Deus está envolvido. Deus está envolvido com a Igreja e se temos um compromisso com Deus, temos um compromisso com o corpo. Portanto, à medida que discernimos o tempo que estamos vivendo e priorizamos nossos projetos, conseguiremos corrigir nossas expectativas equivocadas a respeito dos resultados do nosso trabalho, lembrando que não mais estaremos nos movendo por resultados, mas sim por obediência. Encorajamos a todos que levantem-se, se envolvam, pois a edificação da igreja não se dará com criticas e depreciações, escolas de adoração ou publicações de artigos exegéticos, mas com envolvimento, muito trabalho e cooperação. A palavra para nós hoje é “Suba ao monte, trazei madeira e edificai a casa, dela me alegrarei e serei glorificado”. Suba ao Monte, ou seja, é hora de recorrermos a Deus, encontrar seus recursos e nos dedicar a edificar algo que esteja de acordo com sua vontade e glorifique seu nome na terra.





A RESTAURAÇÃO DE UM REINO SACERDOTAL






Seguindo a ordem das mensagens proféticas vemos que em Ageu 1.1-2,o profeta entrega ao Rei e ao Sumo-Sacerdote uma palavra sobre a real condição de todo o povo (“Este povo diz: Não veio ainda o tempo, o tempo em que a Casa do Senhor deve ser edificada”), porém a partir de Ageu 1.12 e Ageu 2.2, a mensagem profética estava sendo direcionada a Zorobabael como governador de Judá (Rei), Josué como Sumo-Sacerdote e a todo o Povo. Primeiro Deus chama a atenção dos líderes para a condição do povo e depois fala a todos. Por quê? Entender isso pode fazer toda a diferença em tempos de Restauração, pois durante muitos anos a tradição religiosa tem colocado toda sua expectativa em personalidades, instituições são edificadas a partir de líderes eclesiásticos que querendo ou não acabam sendo a esperança de transformação, configurando estruturas frágeis e vulneráveis por uma questão lógica de edificação.
A igreja tem a personalidade de Cristo e é edificada a partir da cooperação de muitos membros (Efésios 4.16), cada um no seu lugar segundo a sua função. Observando Efésios 4, somos desafiados a uma mudança radical de mentalidade, pois os chamados ofícios ministeriais (Apóstolos, Profetas, Evangelistas, Pastores e Mestres) aparecem com objetivo de aperfeiçoar os santos para que “eles” (Os Santos) desempenham a obra do ministério para a “Edificação do corpo de Cristo”(Efésios 4.11-12).

Sem entrarmos muito à fundo nesse tema especificamente, queremos apenas ressaltar a importância de líderes capacitados e respaldados por Deus para exercer seu ofício, porém, queremos também ressaltar a necessidade de rever nossos encontros chamados apostólicos, onde seguidamente perguntarmos uns aos outros: “O que faremos para transformar uma cidade”. Na verdade a resposta é uma só: Aperfeiçoem, treinem, equipem, capacitem, ativem, posicionem todos os santos para que onde eles estiverem desempenhem a obra do ministério, cheguem a unidade da fé, ao pleno conhecimento de Cristo, a perfeita maturidade à medida da estatura da plenitude de Cristo, não sendo mais como meninos levados de um lado ao outro por ventos de doutrinas, dependentes de homens e campanhas idólatras, mas cresçam na verdade em amor naquele que é o cabeça, Cristo (Efésios 4.12-14).

O Reino de Deus é o reino dos santos, eles são os trabalhadores da restauração, se queremos restaurar os valores de um Reino Sacerdotal, precisamos entender que essa realidade só se tornou possível nos dias de Ageu, quando por meio da palavra, Deus despertou o espírito do Rei, do Sumo Sacerdote e do povo. Assim como Jesus ministrou a palavra que reacendeu algo dentro de dois discípulos frustrados e desertores (Lucas 24.32), a medida que o profeta Ageu comunicada a palavra de Deus, o espírito de todos era despertado a voltar-se a Deus e sua vontade.

A partir desse despertamento os ofícios ministeriais devem se colocar a serviço de uma visão de Deus para todos os santos, e não os santos a servido de uma visão deniminacional de seus líderes, esse mudança de mentalidade trará uma mudança de perspectiva ministerial. E com base nisso, acreditamos que uma nova geração de líderes está se levantando com essa mentalidade, abertos a uma proposta de redes, de cooperação e visão corporativa, onde o crescimento não será mais medido pela ascensão institucional vertical, mas pela influência orgânica horizontal, onde o que aparecerá serão milhares de santos levando o evangelho do Reino a todos os lugares e não milhares de pessoas sendo convidadas para ouvir uma mensagem de reino em um único lugar. Uma nova geração de líderes viverá em função do mandato de Deus para a Igreja e será abençoada como Zorobabel, que recebeu uma palavra específica (Ageu 2.20), revogando uma sentença geracional (Jeremias 22.24) recebendo um novo legado de benção apontando a uma Realidade Messiânica. Que da mesma forma essa nova geração se posicione e seja abençoada!

Portanto, nosso desafio hoje tem sido procurar entender em Deus, a melhor maneira de fazer todos os santos funcionarem na obra da edificação da Igreja e na transformação dos valores sócio culturais, segundo o princípio que chamamos “Sacerdócio de todos os santos”, onde segundo o modelo de funcionamento da igreja neo-testamentária todos são ministros, aperfeiçoados e servidos por ofícios ministerias que segundo o exemplo de Paulo se regozija no testemunho e funcionamento de todos (1 Tessalonicenses 2.13-14).Trata-se de valores básicos de Reino, pois só existe Reino a partir da influência real de um Rei sobre um povo, ordenado sobre uma ordem de princípios atuando sobre um território. Não existe relevância de Reino sem um povo que seja relevante em sua fé e testemunho, governados por Deus e exercendo seu sacerdócio (Mateus 10.7 “à medida que seguirdes, pregai que está próximo o reino dos céus. Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli demônios; de graça recebestes, de graça dai”).





UM NOVO TEMPLO, UMA NOVA GLÓRIA






A Segunda palavra provavelmente seja uma resposta a um novo momento de desanimo que envolvia todo o povo, por isso, Ageu ministra ao Rei, ao Sumo-Sacerdote e todo povo dizendo que mesmo que todo o trabalho da edificação pareça como nada diante dos seus olhos, pareça não ter a mesma glória daquilo que já havia sido edificado em outros tempos, o Senhor estava com eles naquele projeto e era necessário que a edificação fosse feita daquela forma. A palavra para todos foi: “Sejam fortes e trabalhai”, “Eu estou com vocês!”. Essa expressão se tornou a base de fé para muitos homens que se tornaram notáveis na história (Moisés/ Josué/ Gideão/ Jeremias), fundamentada sobre uma realidade de pacto estabelecida por um Deus que não muda, deve ser o suficiente para que possamos caminhar com direção e garantia de que chegaremos ao objetivo proposto. Lembremos que melhor do que a sua benção, é termos o respaldo da sua presença conosco em tudo o que estivermos envolvidos, Moisés quis mais do que a benção de Deus para continuar, ele disse que se o Senhor não fosse com ele, não se moveria. Algo muito significativo para nós hoje é ouvir de Deus “Eu estou com vocês”.

Algo que identificamos em muitos lugares que começam a se envolver com a restauração é a frustração, primeiro por tentarmos muitas vezes edificar algo novo tendo como parâmetro aquilo que já não funciona mais como modelo, nos envolvemos com algo novo, tendo em mente o velho. Essa estrutura mental gera muita crise pois nos leva sempre ao mesmo lugar. Samuel por exemplo não encontraria Davi se não tivesse sido exortado a uma mudança radical de mente e valores.

Havia uma geração de idosos (provavelmente de septuagenários) alguns que haviam vivido muitas coisas, poucos talvez tenham visto o templo antes da sua destruição, mas alguns homens provavelmente tenham participado da primeira etapa da restauração de Esdras 3.9 (Todos os levitas maiores de vinte anos foram encarregados de dirigir as obras), homens que olhavam para o resultado do primeiro mês de trabalho e não acreditavam que essa obra pudesse ser finalizada e pudesse ter a mesma relevância daquilo que já havia sido construído, comparando as condições do presente com as glórias do passado. Essa referência e reverência ao modelo antigo, esse pessimismo geracional pode ter gerado uma onda de desanimo na nova geração desafiado a continuar investindo na reconstrução do templo.

Uma questão a ser levantada aqui é: O que de fato determina a glória do templo? Sua ornamentação material ou o fato de Deus dizer esse lugar é “Minha casa”? Talvez o que estamos edificando nesses dias não tenha o mesmo esplendor das estruturas denominacionais históricas, porém, o que desejamos é poder ver onde estiverem dois ou três reunidos em nome de Jesus (Como Ele mesmo) Deus ali se fazendo presente e chamando a assembléia dos Santos de “Minha casa”, essa e a glória que toda a criação anseia ver! A manifestação da Glória do Deus que não habita em templos feitos por mãos de homens, mas se revela através da manifestação dos seus filhos.

Esse detalhe pode ser a resposta a muitos de nós hoje, pois muitas vezes nos envolvemos com a restauração da Igreja, porém, estruturamos nossa mente em modelos e formas, perdendo a nova perspectiva de Deus para o tempo presente, pense que um homem de oitenta anos não tem pode ver algo sendo edificado com a mesma perspectiva de quando tinha doze anos, um homem como Nicodemos não consegue compreender a realidade de uma nova proposta com uma mentalidade ultrapassada, religiosa e natural.

Esses paradigmas mentais geram um ciclo desanimador de frustrações. Sem nascermos do alto não temos como compreender, sem a perspectiva de Deus não conseguiremos avançar. O mesmo Deus que ensinou a tirar água ferindo a rocha, desafiou Moisés a tirar água dizendo a Rocha. Ele não teve fé para falar a rocha, ele continuou ferindo-a, a sua metodologia conservadora funcionou como da primeira vez, porém a sua prisão mental a metodologia passada o impediu de alcançar a promessa futura (Números 20.11-12).

Encorajamos a todos que busquem viver esse novo tempo, abertos a uma nova perspectiva celestial, nova dinâmica ministerial e uma nova mentalidade quanto a avaliação, pois enfatizamos que nesse momento não nos moveremos apenas por resultado, mas por obediência. Quando tivermos fé para trabalharmos dessa forma, seremos surpreendidos pelos resultados. O profeta Zacarias diz: “As mãos de Zorobabel lançaram os fundamentos desta casa, elas mesmas a acabarão, para que saibais que o Senhor dos Exércitos é quem me enviou a vós outros. Pois quem despreza o dia dos humildes começos, esse alegrar-se-á vendo o prumo na mão de Zorobabel” (Zacarias 4.10). “E os que não deram valor a um começo tão humilde vão ficar alegres quando virem Zorobabel terminando a construção do Templo” (NTLH). Guardemos essa palavra de encorajamento, muitas congregações e ministérios locais estão passando por momento de recomeços, e que tenhamos graça para romper com toda mentalidade luciferiana de grandeza para nos alegrar nesse humilde começo que estamos vivendo.

Lembrando que assim como enfatizamos no primeiro artigo, o momento de restauração que estamos vivendo, usando como parte da nossa fundamentação Hebreus 12, encontramos essa palavra mais uma vez em Ageu, aplicada em um contexto de edificação: “Pois assim diz o Senhor dos Exércitos: Ainda uma vezc, dentro em pouco, farei abalar o céu, a terra, o mar e a terra seca; farei abalar todas as nações, e as coisas preciosas de todas as nações virão, e encherei de glória esta casa, diz o Senhor dos Exércitos. Minha é a prata, meu é o ouro, diz o Senhor dos Exércitos. A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o Senhor dos Exércitos; e, neste lugar, darei a paz, diz o Senhor dos Exércitos” (Ageu 2.6-9).

Uma realidade de restauração é uma realidade em que somos abalados pela palavra da verdade, um tempo de se restabelecer as bases, os princípios elementares, os fundamentos apostólicos, o tempo em que aquilo que foi adicionado é removido e permanece apenas o que é imutável e inabalável. Dentro dessa perspectiva a Igreja deixa de ser uma instituição vulnerável por causa do controle humano e passa a ser uma canal de influência do governo divino. Uma coisa é claro e queremos falar mais uma vez, Deus está visitando nossas edificações, e não importa o quanto nossas torres institucionais pareçam seguras, se aquilo que estamos edificando não estiver de acordo com o seu prumo, com usas medidas e valores, serão removidas como que por um sopro, como se elimina a sujeira de um prato (2 Reis 21.13 / Isaias 28.17 / Amós 7.7). Uma palavra importante para esse tempo tem sido não tentarmos preservar que está sendo removido, mas nos dedicarmos a edificar aquilo que Deus está levantando. Segundo o Evangelho narrado por João Jesus diz: “Derribai este templo, e em três dias o levantarei. Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos, foi edificado este templo, e tu o levantarás em três dias? Mas ele falava p do templo do seu corpo”.

Precisamos entender que da mesma forma que Deus coloca um prumo na mão do Rei, a implantação apóstólico dos nossos dias deve corresponder ás suas medidas, ou seja, se queremos viver a restauração, devemos começar a edificar segundo os valores do Reino de Deus e não nós memos achamos que deve ser feito.





UMA NOVA POSTURA DE SANTIDADE E TEMOR






A terceira mensagem de Ageu acontece dois meses depois da última e provavelmente a essa altura já havia a mensagem de Zacarias reforçando a direção profética. Essa mensagem acontece a partir de um questionamento baseado nos próprios princípios cerimoniais da lei a respeito da pureza e da contaminação. A conclusão profética para aquela geração de restauradores era que ao contrário da santidade, a contaminação do pecado é altamente contagiosa, como um vírus, tem ação rápida em um organismo. Precisamos entender que se não nos envolvemos com aquilo que Deus está envolvido, se não somos guiados pelo Espírito do Próprio Deus, nos tornamos totalmente vulneráveis a todo tipo de desvio, contaminação e suas devidas consequências. Deus estava querendo demonstrar que as boas ações e o imediato engajamento deles não seria o suficiente para suspender todas as consequências de estarem a tantos anos vivendo suas próprias vidas sem o favor de Deus sobre todas suas realizações, ou seja, trata-se de uma maravilhosa manifestação da sublime e paterna de Graça de Deus eles estarem de novo ali envolvidos como templo, assim como no Novo Testamento, graça é um favor imerecido manifesto em um contexto de comprometimento, e essa era a recompensa de todos que estavam entendendo o tempo de se dedicarem a edificação do templo (“desde esse dia vos abençoarei!” Ageu 2.19).

Essa revelação de um amor renovado e um favor imerecido seriam fundamentais para que fossa dada continuidade nessa obra de restauração, Antes de colocar pedra sobre pedra, deveriam refletir agora não somente sobre aquilo que já haviam passado, mas agora atentos a representação futura daquilo que estavam vivendo. Se queremos nos envolver com a restauração da Igreja temos que passar pela restauração pessoal. O propósito de Deus e o motivo de nossas intercessões é que os santos se tornem pedras de edificação e não pedras de tropeço, nesse projeto chamado igreja, homens e mulheres que estejam alinhados com o que Deus está fazendo e cooperem em palavras e ações segundo a mente de Cristo e não segundo as cogitações do seu próprio coração (Mateus 16).

O mais interessante é observarmos um processo vivo, presente e continuo, identificando o mesmo ciclo de abalos globais e edificação da Igreja se cumprindo, fazendo mais sentido do que nunca antes. Portanto, a palavra de ordem para nós é simplesmente estarmos firmes na Rocha e totalmente governados pelos valores do Reino de Deus, pois é Ele que está dizendo “Derrubarei”, “Destruirei”, “Tomarei” e “Farei” (Ageu 2.22-23), ou seja, Deus está fazendo o que deve ser feito e nós como seus filhos somos parte com ele e estamos cada dia mais envolvidos com tudo o que Ele está realizando. Entendamos esse tempo, nos envolvamos com o propósito e nos sujeitemos ao seu modo!






Link para: Vivendo a Restauração - Parte 1

[1] COMAY Joan Quem é quem no Antigo Testamento Editora Imago
[2] SOUZA Fábio Apostila Escola de Capacitação Ativação Profética
[3] SCOTT Martin Abraçando o amanhã Profetas em tempo de Transição
[3] BOMFIM Anderson Artigo Vivendo a Restauração Parte Um
c 2.6 Hebreus 12.26
p p 2.21: Colossences 2.9; Hebreus 8.2; 1Corintios 3.16; 6.19; 2Corintios 6.16

Vivendo a Restauração - Parte 1








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VIVENDO A RESTAURAÇÃO - Parte 1
(Por Anderson Bomfim)

A Missão Mobilização tem sido desafiada a ampliar sua visão e experiência de viver e ser uma expressão da igreja desde o seu início, procurando pela profundidade da simplicidade, transicionando de uma mentalidade institucional para uma realidade de filiação e herança, fundamentada em Cristo (Filhos Semelhantes a Jesus), voltada para pessoas ao invés de estruturas, trabalhando pela unidade da fé em amor, zelando pela base familiar do Reino de Deus (Atos 2.44 “Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum”). Porém, para alcançarmos essa realidade tem sido necessário sujeitar-se a um processo em que devemos mostrar frutos de restauração.

É muito comum atribuirmos tudo o que somos eclesiasticamente ao resultado de uma “Reforma institucional”, definida geralmente como um “Movimento religioso dos começos do séc. XVI, que rompeu com a Igreja Católica Apostólica Romana, originando numerosas igrejas cristãs dissidentes, propondo um conjunto de mudanças efetuadas com o fim de torná-la mais fiel à forma de suas origens”
[1]. O significado do termo Reformar ou renovar eqüivale a dar a forma que se tinha quando novo, por isso, originalmente o termo caracterizava aquelas igrejas do século XVI que se levantaram para dar à Igreja da Idade Média a funcionalidade da Igreja so primeiro Século. Usando a própria definição de Aurélio (Não que essa seja a mais completa), vemos que a Reforma deveria nos tornar mais fiéis á forma de nossas origens, porém, ainda continuamos caminhando sobre o legado da “forma” de pensamento grego-romano na Teologia, Filosofia, Liturgia, Economia e assim por diante, nosso fundamento apostólico ainda é Romano.

Não queremos com essa observação menosprezar esse momento da história, entendemos que a “
Reforma” teve e ainda tem seu papel e sua importância, mas não suficiência. Não restringimos a reforma ao luteranismo ou movimentos isolados, também cremos que sua abrangência vai além da questão teológica, trazendo novas diretrizes para a prática da fé cristã, porém assim como muitos reformados, cremos que esse momento histórico representa parte de um processo contínuo que visa nos levar a originalidade.

O termo “
Reforma” fala justamente de uma “Nova forma”, por isso, através do movimento reformador, procurou-se por mais fidelidade as suas origens da fé cristã, segundo a mentalidade e padrão de pensamento da sua época, lançando-nos ao desafio de continuar vivendo o processo que nos levará ao encontro de algo mais relevante que uma limitada variação dentro de uma mesma configuração.

Após a “Reforma” protestante, seguidas gerações viveram dias em que valores, princípios e fundamentos foram restaurados, e hoje mais do que nunca, mediante a gritante necessidade de genuinidade, torna-se necessário darmos continuidade a esse processo, porém para isso torna-se necessário ampliarmos nosso entendimento, procurando por algo que esteja além da implantação de novos métodos, algo que harmonize a crise das formas e nos leve de volta a essência, que significa “Buscar pela origem que constitui a natureza da existência de algo, sua substância, sua significação especial e seu espírito, ao invés de apenas sua forma de funcionamento”.

Não podemos continuar acreditando que a resposta dos nossos problemas eclesiásticos está em alguma “Forma de fazer ou viver como Igreja”. Após alguns anos de seguidas tentativas experimentando ser igreja sem prédio, igreja com prédio sem cara de igreja, igreja nas casas, nas casas e no prédio, ou seja, depois de alguns anos experimentando mudar as formas, seguindo o exemplo cíclico da história, temos entendido que “A resposta para essa crise não está na forma de se fazer igreja, pois nenhuma forma, por mais contemporânea que seja, por mais certa e exclusiva que pareça, nenhuma delas é nova, por isso, a resposta pode estar além das formas, pode estar na essência, e essa essência sempre irá falar de pessoas enquanto formas falam de estruturas”.

A partir dessa idéia de originalidade, temos procurado ampliar nossa visão, e transicionar da proposta de reforma para restauração, não no sentido de obter uma nova forma, mas sim de obter de novo a essência perdida, recuperar a idéia predominante estabelecida desde sua origem, de “Recomeçar segundo as escrituras atentando para os princípios que falam da sua identidade, propósito e destino”. Porém, para isso, teremos que “Flexibilizar conceitos pessoais e métodos exclusivos, relativos ao tempo e sujeitos a transitoriedade natural, para estar fundamentados sobre o que permanece, sobre a palavra que determina sua natureza e desenvolve sua existência”.

Ao olharmos para o Hebraico vemos a idéia de “Restaurar”, presente em várias palavras e usada centenas de vezes no sentido de “Renovar seu estado original, restituindo sua verdadeira essência, fundamentando as bases do altar antes do seu pleno funcionamento do templo”. Com base nos gráficos abaixo conseguimos extrair alguns valores dos termos hebraicos.


• Renovar seu estado original.
• Restituindo sua verdadeira essência e significado.
• Estabelecer no sentido de posição e espaço.
• Tomar o seu lugar em atitude de permanência, mantendo posição (2 Crônicas 24.13)
• Fundamentar as bases do altar(templo) antes do seu pleno funcionamento (2 Crônicas 24.7)
• Restaurar a força, prevalecer, fortificar, ser firme e resoluto, Prevalecer sobre. (2 Crônicas 34.10)
• Ser firme, estável, estar estabelecido e fixado com segurança e durabilidade. (2 Crônicas 35.20)
• Ser firmemente determinado e guiado corretamente. (2 Crônicas 35.20)
• Estar pronto, preparado e consolidado (2 Crônicas 35.20)
• Terminar, completar e ser completado (Esdras 4.12)
• Manter-se confirmado. Levantar e permanecer de pé. (Isaias 49.8)
• Retornar ou volta, converter, arrepender ou trazer ou ser trazido de volta (Isaias 58.12).

Hebreus 9.12 “Restaurar a sua condição natural e normal algo que de alguma maneira projeta-se além da sua superfície natural ou está desalinhado como, por exemplo, uma junta do corpo, quebrada ou inchada”.

Essa restauração se dá pelo ser trazido de volta através de arrependimento, de uma nova consciência e mentalidade que nos leva a uma nova posição e direção, restaurando o poder e autoridade dos santos que são a expressão da Igreja. Por isso, entendemos que a igreja não é a causa, mas o efeito, ou seja, a igreja é a expressão dos santos, que por sua vez expressam Cristo, afim de que Deus seja glorificado na terra. Seguindo a terminologia usada em Esdras, acreditamos que “Entendendo o princípio da essência, natureza e a originalidade, poderemos trabalhar sobre um fundamento que nos dará condições de finalizar”, mobilizando santos para levantar na terra e posicionar nas regiões celestiais o que em Cristo já foi estabelecido, ampliando o entendimento de igreja como também, uma realidade de conexão espiritual.

Dentro da linguagem do Novo Testamento, encontramos uma palavra que em algumas versões acabou sendo traduzida por “Reforma”, encontrada em Hebreus 9:10, num contexto que trata a metodologia cerimonial do Tabernáculo, como ordenanças da carne, baseadas em comidas, bebidas e diversos rituais de purificação, impostas até ao tempo oportuno de “Reforma”, palavra que no original grego “Diorthosis” aparece no sentido de “restaurar a sua condição natural e normal algo que de alguma maneira projeta-se além da sua superfície natural ou está desalinhado como, por exemplo, uma junta do corpo, quebrada ou inchada
[1]”. Portanto, o termo não aparece no sentido de mudar as formas, mas de restaurar a condição natural e original.

Dessa forma, podemos continuar caminhando sobre o mesmo pensamento, usando como base as principais palavras usadas no Novo Testamento para “Restaurar” como por exemplo: “apokathistemi” (Oito vezes) que tem como seu principal significado restabelecer o seu estado anterior ou estar em seu estado anterior e trabalhando suas raízes pode-se chegar à idéia de estabelecer ou constituir sobre algo separado. (Referencias: Mateus 12.13 Mateus 17.11 Marcos 3.5 Marcos 8.25 Marcos 912 Lucas 6.10 Atos 1.6 Hebreus 13.19).

A partir das raízes terminológicas, chegamos a um dos textos mais significativos com relação à restauração, Atos 3.21, onde uma única vez no NT a palavra “apokatastasis”, relacionada à forma de governo em que a autoridade de Deus é exercida por seus representantes na Terra, apontando para a restauração do estado perfeito antes da queda, confirmando a idéia de restabelecer o estado anterior e original (Atos 3.21 “ao qual é necessário que o céu receba até aos tempos da restauração de todas as coisas, de que Deus falou por boca dos seus santos profetas desde a antiguidade”). Esse posicionamento não representa apenas uma questão de terminologia, mas uma direção que nos dará segurança, protegendo-nos de nós mesmos, da tentação de querer lutar por mais uma nova reforma, sem entender que a proposta para a igreja da última hora ou do terceiro dia, é voltar à essência e a originalidade, que nada mais é do que a expressão viva do próprio Cristo. Observe como é possível visualizar um processo de restauração com base no texto de Atos 3.20-21:
Além disso, gostamos do exemplo usado a respeito do ofício de um restaurador, que tem como objetivo , recuperar a originalidade do móvel danificado, ao invés de apenas reformá-lo podendo acrescentar elementos que não fazem parte de sua forma original. Acreditamos que todo elemento que adicionamos a igreja viola sua originalidade e acaba se tornando agente de crise, fatores internos responsáveis por gerar instabilidade e vulnerabilidade. Por isso, nesse sentido, estamos vivendo o tempo de “céus e terra serem abalados” de Hebreus 12.22-29. Uma palavra pontual que traça o paralelo entre o Sinai e Sião, relacionado ao desenvolvimento da Igreja.

Nesse texto somos exortados a “tomar cuidado” no sentido de discernir o que está acontecendo e não recusar Àquele que do céu nos adverte, hoje, não mais em uma perspectiva terrena e temporal, pois a partir de Sião, não estamos na “sombra”, mas diante da “imagem real”, apontando para um sacerdócio espiritual que nos coloca num novo nível de responsabilidade, por isso, nós “que temos nos desviado daquele que do céu nos adverte”, devemos “tomar cuidado”, pois o dia do Senhor visitar nossas edificações chegou e “aquele, cuja voz abalou, então, a terra; promete, dizendo: “Ainda uma vez por todas, farei abalar não só a terra, mas também o céu.” No Sinai a voz do Senhor abalou a terra ao ponto do povo não querer mais ouvi-lo, porém, sua voz abalará não só a terra como também os céus. Esse termo “abalar” significa o movimento produzido pelos ventos, tempestades, ondas e coisas do tipo que sacodem completamente e causam agitação até mesmo derrubando algo.

A “Voz” do Senhor está Ecoando e o que Ele está falando a igreja nesses dias trará abalos estruturais, a fim de por a prova nossas edificações e fazer com que permaneça apenas o que é eterno, aquilo que está de acordo com o original. Quando diz: “de uma vez por todas farei abalar”, esse “abalar” aparece no sentido de bater, agitar a mente dos homens, para que se prostrem em tremor e temor, falando de uma remoção completa e definitiva das coisas abaláveis.

Esse termo “remoção” vem de “metathesis” significando transferir de um lugar para outro, no sentido de trocar coisas instituídas ou estabelecidas, concordando com Hebreus 9.10. Mas afinal o que será removido? À medida que começarem a cair às chuvas, transbordarem os rios e a soprarem os ventos, tanto sobre os que edificam sobre a areia como aos que edificam sobre a rocha (Mateus 7.27), identificaremos quem verdadeiramente tem edificado sobre o firme fundamento. Portanto, a remoção das coisas abaladas fala da diferença entre o que faz parte da edificação original daquilo que foi adicionado segundo nossa vontade, fala da diferença daquilo que foi feito no espírito de babel das que foram feitas no espírito de Betel.

A verdade é que tudo aquilo que possa ter sido adicionado por nós ou até mesmo mudado, representa tudo que é abalável, conseqüentemente tudo que será removido para que permaneça apenas o inabalável de Deus. Esse termo “inabalável” aparece no sentido de algo que não pode ser removido ou mudado, de posição permanente, que não cede com facilidade; representando ainda algo que não está sujeito a derrota nem a desordem, permanecendo sempre firme e estável. Dessa forma devemos receber o Reino como ele é, e vivermos a Igreja como ela é e não como gostaríamos que fosse. Perceba que as escrituras chamam a nossa atenção para aquilo que “não é de visível aparência”, ou seja, para aquilo que em Cristo recebemos dentro de nós, conferindo com o texto de Hebreus 12.29 que diz: “Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor”, confirmando a idéia de que a essência de graça, serviço, reverencia e santo temor, precedem as formas de funcionamento.

Por exemplo, diante de uma mulher preocupada em como (balde) tirar a água (poço) , e como adorar (monte), sempre buscando pela uma forma correta, Jesus a encoraja a crer, encontrar a essência, a conhecer quem está diante dela. Jesus anuncia a chegada do novo tempo em que o importante para Deus é a essência (João 4.24). Portanto, essa crise de paradigmas, esse conflito de modelos e a ausência de essência, não é algo peculiar aos nossos dias, mas algo vem se repetindo durante toda a história, dividindo gerações e afetando a expressão da igreja.

Quando falamos que a essência precede a forma, é importante entender que não estamos anulando a forma, estamos afirmando que a forma por si não é a resposta para nossas crises eclesiásticas. Entendemos que a verdadeira essência da igreja será encontrada por filhos de Deus amadurecidos o bastante para corresponderem à multiforme sabedoria de Deus manifesta através da igreja, ou seja, filhos que entenderão a igreja como a expressão dos santos, que nada mais é do que a expressão do próprio Cristo atuando em todas as esperas de influência da sociedade a partir de uma perspectiva espiritual e uma realidade de autoridade e poder que se manifestará na terra de várias maneiras diferentes, mediante a diversidade do espírito coletivo de cada jurisdição, de acordo com a dinâmica de cooperação e ajustes das suas partes.

Percebemos essa diversidade corporativa de forma prática desde em exercícios espirituais realizados em grupos pequenos, até comunidades inteiras que visitamos em cidades diferentes. Trata-se do mesmo Deus que é tudo em todos, atuando de maneira diferente à medida que vivemos a mesma essência. Através dessa percepção estaremos amadurecendo também a nossa visão de unidade, entendendo que muitas vezes tão importante quanto estar junto no mesmo lugar físico, será não atrapalhar o que Deus está fazendo na vida do outro na mesma cidade ou região. Esse entendimento pode cooperar para que continuemos preservando a unidade da fé de maneira saudável. Por exemplo: Assim como usamos a expressão “unha e carne” como um símbolo de unidade, devemos ampliar para a expressão “Boca e cotovelo”, como uma verdade sobre unidade corporativa, mesmo que estes nunca se encontrem. Eles fazem parte do mesmo corpo, e representam um simples exemplo da essência da unidade que precede a forma como viveremos.

A proposta da restauração nos coloca diante de um modelo a ser seguido, à semelhança de Moisés que foi desafiado a edificar algo para Deus segundo o modelo estabelecido por Deus (Atos 7.44 Hebreus 8.5). Isso significa que Deus trabalha com padrões, com mapas e plantas, e mesmo tratando-se de uma realidade de sombra, entendemos a metodologia do Reino, pois se a Igreja é a expressão dos santos, a família de muitos filhos semelhantes a Jesus, entendemos que esse padrão está no cabeça do corpo, no fundamento do edifício, no próprio Cristo que representa o padrão de maturidade (Perfeição) de Deus para todos os santos e conseqüentemente, a Igreja. Portanto, não devemos edificar segundo o padrão que achamos melhor, mas segundo o padrão estabelecido pelo próprio Deus.

Seguindo o decorrer da história bíblica, vemos que os métodos foram ampliados, adequados a cada realidade e segundo sua época, em terra própria ou em exílio, porém a essência permaneceu a mesma, mostrando que devemos restaurar a essência do Tabernáculo, da tenda, do templo, da casa, devemos ser a expressão de Cristo, para que possamos entender o chamado a viver uma realidade multiforme, porém, com o mesmo espírito e essência.



Fraternalmente em Cristo
Anderson Bomfim