Ansiedade em estruturas de orgulho - Parte 3

Estamos diante de um ciclo lógico de inseguranças, ansiedade e incredulidade. A partir do momento que não confio em Deus, passo agir por conta própria, procurar como resolver as situações, nesse momento estou construindo a partir de uma estrutura de orgulho. Pessoas ansiosas são intimamente orgulhosas. Por mais que possamos nos vestir de piedade e nos justificar por nossas justas causas, a verdade é que “o Senhor é excelso, contudo atenta para os humildes, os soberbos ele os conhece de longe...” (Salmo 138.6). Por mais que isso nos ofenda, a ansiedade incrédula nos torna altivos.

Assim como a ansiedade, a soberba tem o poder de abater o homem (Provérbios 29.23). Assim como a incredulidade é pecado, o orgulho também é. Provérbios 21.4 diz: “Olhar altivo e coração orgulhoso, lâmpada dos perversos, são pecado”. A soberba está relacionada ao conceito elevado que alguém faz de si mesmo. Um pecado (desvio de conduta) caracterizado pela superioridade de comportamento com base em aparência e reputação. Característico da natureza do homem caído que vive em caminhos que aos seus olhos parecem direito, mas seu fim é de morte (Provérbios 14.12). O homem regenerado não vive mais segundo essa natureza, para ele toda suficiência vem de Deus.(2 Coríntios 3.5), não sabe mais do que lhe convém, não vive para si mesmo e procura ter em si o mesmo sentimento e atitude que houve em Cristo Jesus (Filipenses 2.5).

1 Pedro 5.6 diz: “Vocês devem se revestir de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça. Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte, lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós. Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo. Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar. A ele seja o domínio, pelos séculos dos séculos. Amém!”

Devemos nos posicionar diante de Deus, nos render de verdade, nos colocar debaixo da sua poderosa mão para que no seu tempo, no momento exato Ele mesmo levante a um lugar de maior autoridade. Quando a palavra diz que Deus resiste, está dizendo que verdadeiramente se opõe, se nega, se recusa, simplesmente coloca a sua mão em nosso peito e não nos permite avançar. Essa é uma verdade inegociável, quando nos movemos com soberba enfrentamos oposição de Deus. O propósito dessa oposição é de nos parar, revelar a necessidade de rompimento com o orgulho e o valor do coração humilde e quebrantado. Deus resiste ao coração soberbo com o propósito de gerar um novo espírito, mentalidade e posicionamento.

O termo “cingi-vos todos de humildade” implica em sujeitar-se uns aos outros. A palavra também se refere ao sobretudo que os escravos usavam para manter-se limpo enquanto trabalhavam, uma veste excessivamente humilde[i]. Não a ver com circunstâncias isoladas que provam nossa humildade, mas de uma disposição intima de uma vida de humildade. Essa disposição interior nos dará condição de resistir a pressão de toda síndrome luciferiana de grandeza, reconhecimento, independência e usurpação de poder e posição.

Essa disposição interior nos fará progredir como discípulos de Cristo, nos tornará bem aventurados, nos confirmará como “Filhos de Deus”, “herdeiros da terra”, mordomos que não se apropriam de nada do seu Senhor, mas administram com responsabilidade o que lhes foi confiando com mentalidade servidora e não acumulativa. Trata-se de uma contra cultura, de uma proposta de vida que ofende os valores do homem moderno hedonista, que cultua o prazer e o bem estar. A equação é simples, colocar a vida debaixo da poderosa mão de Deus, sujeitar uns aos outros no sentido de organizar a vida no conselho dos irmãos e manter-se firme na fé, tomar posição firme mediante aquilo que ouvimos (Tiago 4:7-8), duvidar das nossas duvidas para nos firmar na certeza de que não estamos sozinhos.

Na verdade não temos muitas opções com relação a isso; ou nos rendemos ou seremos derrubados. Ou nos rendemos sobre a Pedra ou Ela cai sobre nós. Não nos deixemos envolver pela Ansiedade altiva, pois quanto maior nosso salto em buscar de soluções humanas maior será nosso tombo. Obadias 3 diz: “A soberba do teu coração te enganou, ó tu que habitas nas fendas das rochas, na tua alta morada e dizes no teu coração: Quem me deitará por terra? Se te remontares como águia, e puseres o teu ninho entre as estrelas, de lá te derrubarei, diz o Senhor”.

Sabemos que ansiedade tem a ver com precocidade, nos torna precipitados, imediatistas e se colocar debaixo da poderosa mão de Deus, tem a ver com descobrir seu “tempo oportuno”. Render uma situação que divide nossa mente e coração tem a ver com se render a seu tempo oportuno. O fato de entregarmos uma situação não significa que ela será resolvida instantaneamente. O tempo provará a genuinidade da nossa entrega. Devemos ser sóbrios e vigilantes no processo que existe entre o ponto da entrega e o tempo oportuno de uma liberação. Calma, serenidade de espírito, paciência, perseverança, muito cuidado e atenção são necessários para que não venhamos ser surpreendidos pela dúvida e venhamos reassumir o controle daquilo que rendemos a Deus.

A submissão consiste na capacidade de aceitarmos os meios de Deus, seu tratamento e propósito. A questão principal aqui não está em vencermos o diabo, mas em sermos vencidos por Deus. Não há sentido em continuar lutando contra isso. Quantas vezes Deus coloca sua poderosa mão em nosso peito e não nos deixa avançar em nossos desígnios? Quantas vezes por falta de sobriedade espiritual atribuímos nossos fracassos e problemas pessoais às retaliações ao Diabo? A verdade é que nosso coração altivo, teimoso e pouco ensinável se ofende com a possibilidade do próprio Pai estar nos resistindo. O fato é que Ele precisa nos vencer. A partir dessa rendição pessoal seremos capazes de ver claramente como nosso Pai É presente em todas as circunstâncias da vida, reconhecer que de fato Ele tem cuidado de nós, sempre esteve cuidando de nós.

Quando somos resistidos o coração se manifesta, nossa verdade se revela, nesses momentos descobrimos a pecaminosidade daquilo que nos orgulha, a obscuridade do lado “justo da nossa alma”, as reivindicações egoístas do nosso censo de justiça e direito unilateral, fortalecido pela religiosidade que se mantem pelas práticas exteriores de cerimoniais passivos. Filipenses 2.13 diz “...esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, para o premio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. Todos nós conhecemos o testemunho de Paulo, mas a questão é: Do que estava se esquecendo? O que estava deixando para trás? Estava se esquecendo daquilo que fazemos questão de lembrar Deus todos os dias, estava deixando aquilo que antes se agarrava: Justiça própria. Algo valioso perdia seu valor ao ponto de ser comparado a um excremento animal, o valioso perdeu seu valor comparado com a sublimidade do conhecimento de Cristo. Não tem como mudarmos nossos valores sem perdemos perdermos valores.

Filipenses 3.4 ele começa dizendo: “Se alguém pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais... circuncidado ao oitavo dia, quanto a justiça que há na lei irrepreensível. Mas o que para mim era lucro considerei perda por causa de Cristo. Sim deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, se não a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus , baseada na fé”

A ansiedade altiva pode ser camuflada pelo orgulho religioso e legalismo sem lei, pessoas que se sentem corretas sem conhecer os padrões da torá do Senhor, medem sua vida por ações tão superficiais que se tornam irrelevantes. Devemos nos expor intimamente diante de Deus, a fim de que nossa verdade se manifeste, mesmo que venhamos descobrir nossas mentiras. Experimentaremos algo libertador, buscaremos pela verdade e Ela nos libertará.

Não podemos continuar usando linguagem de Reino de Deus pensando com mente secularizada, condenada por sua própria consciência, a procura de analgesia na supervalorização de praticas exteriores, superficialidade da bondade, banalização da caridade. Não existe nada de pioneiro nesse comportamento patológico, não existe nada de inovador nesse tipo de mesmice missional, não existe nada de vivificante nesse tipo de projeto que fazemos para provar algo para nós mesmos, para nossos pais, outras religiões ou até mesmo para Deus.

Se existe algo que devemos perder é nosso censo de justiça própria, por isso pode nos arruinar. Isaias 64:4 afirma que nossa justiça não passa de trapos de imundície, talvez você pense pano de chão, aquele que limpamos banheiro, mas pode ser pior. “Todos nós nos tornamos impuros. As nossas boas ações, que pensamos ser um lindo manto de justiça, não passam de ‘trapos imundos’” (NBV). Outras versões chegam mais perto do que o profeta quer dizer e mencionam “roupa ‘manchada’” (BP) e “panos ‘repugnantes’” (TEB). A tradução da CNBB acerta: “Nossa justiça toda é como ‘sangue menstrual’”. Esses trapos imundos são os absorventes da época[ii].

Nossa mente pode estar cheia de planos, aparentemente podemos ter tudo sob controle, “muitos propósitos há no coração do homem, mas o desígnio do Senhor permanecerá” (Provérbios 19:21). Minha oração é para que os desígnios do Senhor permaneçam sobre nossas vidas. Aprendi que toda vez que fazemos esse tipo de oração devemos nos preparar para que coisas mudem, aquilo que pareciam ser não é, o que parecia ir não vai, porém, o que permanece é aquilo que estar de acordo com seu desígnio, plano, intensão e propósito.

Associar Ansiedade com esses níveis e incredulidade e altivez nos faz repensar pecado, pois não veremos pecado a partir das lentes da justiça própria, não mandamos mais para a execução pública os transgressores hediondos, imorais, pois o fato de agirmos por conta própria em nome de Deus já é um desvio, nos faz perder direção e sentido. Pregar santidade como ser separado do mundo sem entender que fomos separados para cumprir algo no mundo não é viver em santidade completa. Esse tipo de pensamento é sofismático, é correr o risco de achar estar no caminho certo e ser surpreendido por um destino de frustração. Todos nós precisamos de uma cura, de um concerto, de reconciliação para que tenhamos paz com Deus.

Não tem como negar que vivemos uma aceleração dos tempos, mas essa aceleração não autoriza precipitação, pressa irrefletida, agir sem discernimento, fazer sem ver o Pai fazendo, falar sem ter ouvido. A ansiedade traz perturbação e confusão, comprometendo nossas ações. Em dias de aceleração temos que perceber como ser mais objetivos e pontuais em nossa movimentação.

Essa necessidade de pontualidade pode exigir de nós uma mudança de valores e mentalidade, avançarmos movidos por obediência e não apenas por resultados. Não mais associar sucesso com termos coisas pra mostrar, mas em sermos pessoas que estão cumprindo algo em seu tempo. Nem sempre foi a maioria que viveu o cumprimento de uma palavra no seu tempo, nem sempre movimentos populares liberaram a palavra que acionaria o próximo tempo.

Josué cumpriu as orientações de meditar dia e noite para não se desviar, e ao entrar na terra se tornou bem sucedido por cumprir um propósito que estava sobre a sua vida, João Batista foi bem sucedido por ter cumprido o propósito de ser a voz daquele que clama contrariando as expectativas que estavam sobre sua vida, pregando durante todo o seu ministério uma única mensagem, Jesus cumpriu o propósito que estava sobre sua vida contrariando a expectativa de estabelecer um Reino sócio-politico visível. O fato de estarmos cumprindo um propósito nem sempre significa que termos coisas grandes para mostrar. Muitas vezes a ansiedade é resultado dessa pressão pelos resultados e padrões secularizados de sucesso ministerial.

Romanos 12.16 diz: “Sede unânimes entre vós, não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos as humildes, não sejais sábios em vós mesmos. A ninguém torneis mal por mal, procurai as coisas honestas perante todos os homens. Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens”. Salmo 139.23 diz: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos, vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno”.

[i] Strong, J. (2002; 2005). Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Sociedade Bíblica do Brasil.

[ii] Comentário revista Ultimato : Trapos de imundícia em vez de boas obras


Faternalmente em Cristo,
Anderson Bomfim

andersonbomfim@hotmail.com












( Texto extraído da página de Anderson Bomfim no Facebook: https://www.facebook.com/notes/anderson-bomfim/parte-iii-ansiedade-em-estruturas-de-orgulho/291433737626151 )

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